Empresas Brasileiras investem em Tecnologia Ambientalmente Correta

Empreendedorismo, inovação e meio ambiente. Um tripé que do ponto de vista industrial, econômico, urbano ou agrícola deve estar dentro de uma equação cujo resultado é sempre igual ao menor impacto.

Empresas de vários setores investem em inovações tecnológicas limpas e sustentáveis

Empreendedorismo, inovação e meio ambiente. Um tripé que do ponto de vista industrial, econômico, urbano ou agrícola deve estar dentro de uma equação cujo resultado é sempre igual ao menor impacto. No Brasil, um dos países de maior riqueza natural, o tema é ainda mais oportuno. Aquém de outras nações que há muito tempo já investem em tecnologias limpas e sustentáveis, apenas nos últimos anos vê um crescimento do investimento de empresas para tornar o negócio ambientalmente correto, com expertise suficiente para causar o menor dano possível.

Estudo da consultoria alemã Roland Berger mostrou, em 2009, que as empresas brasileiras investiram menos em meio ambiente do que a média internacional. Enquanto no exterior, o setor privado investia cerca de 2% do seu faturamento em tecnologias sustentáveis, no Brasil, 54% das empresas aportavam até 1% das receitas. Acredita-se, porém, que podem ter havido variações nesses percentuais nos últimos anos, uma vez que as empresas têm investido muito em inovação, conforme destaca o diretor da Inseed Investimentos, Alexandre Alves.

Segundo ele, algumas questões se tornam primordiais no contexto atual. “Como recuperar aquela matéria-prima? Como usar menos agrotóxico? Como fazer mais coisas orgânicas? Mas tudo isso também pensando em rentabilidade e economia, pois o sustentável, a princípio, não pode ser mais caro, senão haverá uma restrição”, ressalta Alves.

A mineira Inseed é gestora do Fundo FIP Inseed FIMA, um fundo de inovação em meio ambiente pioneiro no país criado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES). “Acreditamos que grande parte dos problemas ambientais atuais, gerados com a industrialização ou com a urbanização, podem ser acolhidos, equacionados e até minimizados com a aplicação de inovação tecnológica”, explica o diretor da Inseed.

Orientação Direta

No mundo dos negócios, meio ambiente não é somente um olhar ecologicamente correto, mas um investimento que faz parte da composição do custo da empresa. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) trabalha com três linhas de ação. A primeira é o programa Minas Sustentável. Criado para ajudar a indústria mineira a produzir com mais qualidade, respeitando o meio ambiente e apoiando o desenvolvimento social, ele oferece um amplo mapeamento de impactos ambientais e sociais, consultorias para regularização ambiental e ecoeficiência, capacitações e ações educativas. “Antes, angariávamos demandas. Hoje, vamos até as empresas diretamente dar orientação para as adequações”, explica o gerente de Meio Ambiente da Fiemg, Wagner Soares Costa.

A segunda é o Programa Mineiro de Simbiose Industrial, que reúne empresas de todos os setores industriais e melhora a eficiência de recursos. Ele trabalha com todos os tipos de recursos: resíduos, materiais, energia, água, logística e perícia. “É uma reunião presencial entre empresas de diversos setores que avalia o que pode ser reaproveitado entre uma e outra. Por exemplo, se eu gero acetona e há uma outra empresa que produz tinta com valor de mercado mais baixo, ela pode usar esse resíduo do meu produto. Em vez de dispor no aterro industrial, faz-se a troca. Esse tipo de trabalho tem conseguido desviar do aterro muita quantidade de resíduo que será reaproveitado por outra empresa”, explica Costa.

Por fim, a federação tem apostado no reuso de água, atuando próximo aos comitês de bacia para orientar empresas a buscar adequação nesse quesito. Essa é, aliás, uma das premissas do setor mineral, de acordo com o diretor administrativo do Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais (Sindiextra), Cristiano Parreiras. “O investimento em sustentabilidade é constante no dia a dia do setor, com destaque para a recirculação de água, cujos índices de recirculação são superiores a 95%, e reaproveitamento de resíduos e rejeitos”, afirma. Segundo ele, a implementação de políticas voltadas para a área ambiental é uma realidade em todas as empresas minerais do estado, tendo em vista as inúmeras compensações condicionantes exigidas ao longo dos processos de licenciamento ambiental.

Parreiras lembra ainda que o rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na Região Central do estado, acendeu o alerta máximo para todas as empresas do setor. “O resultado disso é o grande número de eventos que já houve ao longo deste ano, discutindo novas formas de disposição de rejeitos e maneiras mais seguras de construção de barragens, tendo como pano de fundo a tragédia”, relata.

Recurso para menores

Entre as iniciativas de inovação, há um espaço para as pequenas e médias empresas inovadoras que buscam desenvolver soluções que impactam direta e positivamente o meio ambiente. A principal questão dessas empresas menores é ter acesso a recursos para conseguir fazer isso em escala maior e velocidade. O Fundo FIP Inseed FIMA, gerido pela Inseed Investimentos, vem para preencher essa demanda. Empresas do setor de tecnologias limpas, com faturamento de até R$ 20 milhões ao ano, podem candidatar-se a receber aporte de capital do Fundo. São R$ 165 milhões de capital comprometido para aporte em até 20 empresas até o fim de 2017. O Fundo contempla três eixos de investimento: soluções ambientais, tecnologias avançadas e agropecuária sustentável, e novos modelos.

Entrevista com Alexandre Alves – diretor da Inseed Investimentos

Por que, num país naturalmente rico como o Brasil, a questão ambiental é tratada ainda pelo mercado de maneira tão incipiente?

Justamente por sermos um país tão rico e abundante a temática do meio ambiente é ainda tratada de maneira incipiente. Em países onde a escassez de recursos é mais presente na sociedade, como o Japão, a restrição força aquela sociedade a olhar com mais foco e atenção para a questão ambiental. Mas temos visto este cenário mudar, por isso entendo, como gestor de um fundo ambiental, que a tendência é se investir cada vez mais na sustentabilidade nos próximos anos. O mercado cada dia mais vai tratar o meio ambiente com mais respeito e integrado aos negócios.

Que tipo de segmento hoje mais se destaca no Brasil entre as empresas que mais usam tecnologias sustentáveis?

As empresas que mais se destacam nas iniciativas ambientais também são aquelas que mais impactam. Destacaria as de energia, porque eles são transversais na matriz econômica do país. As do agronegócio: pelo seu impacto e extensão no Brasil. E também a indústria, como destaque para as de petroquímica e de celulose, paisagens e madeiras. Lembrando que os investidores, principalmente, os internacionais tem incentivado e exigido práticas sustentáveis destas empresas.

 

Fonte: Jornal Online da Economia

Energia solar fotovoltaica pode crescer mais de 300% até o fim do ano, diz setor

Os investimentos até o fim de 2017 deverão somar R$ 4,5 bilhões

A geração de energia solar fotovoltaica no Brasil atingirá o patamar de 1.000 megawatts (MW) de capacidade instalada até o fim do ano, de acordo com projeção da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). O número representa um crescimento de 325% em relação à capacidade atual de 235 MW, suficiente para abastecer cerca de 60 mil residências, com até cinco pessoas em cada uma.

A estimativa feita pelo setor coloca o país entre os 30 principais geradores dessa fonte de energia no mundo, com a expectativa de estar entre os cinco primeiros até 2030 em potência instalada anual. Atualmente, estão contratados, por meio de leilões de energia, cerca de 3.300 MW, que serão entregues até 2018.

Os investimentos até o fim de 2017 deverão somar R$ 4,5 bilhões. O crescimento da capacidade instalada favorece ainda a geração de empregos em toda a cadeia produtiva. Pelos cálculos do setor, para cada MW de energia solar fotovoltaica instalados, são gerados de 25 a 30 postos de trabalho.

Para o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, o desempenho dos últimos anos mostra que o setor passou ao largo da crise econômica brasileira. “O crescimento no ano da potência instalada vai ser mais de 11 vezes mostrando que o setor está em uma fase diferente da economia brasileira, ainda em um processo lento de recuperação, enquanto esse setor sequer enxergou a crise. Crescemos a 300% ao ano durante os anos de crise e agora com esse começo de recuperação continuamos crescendo a taxas elevadas”, destacou Sauaia em entrevista à Agência Brasil.

Custo

O avanço da energia solar fotovoltaica no Brasil tem permitido ainda a redução de preços para os consumidores. Segundo o presidente da associação, a energia solar fotovoltaica registrou uma importante redução de preços nos últimos anos, porque este tipo de tecnologia se tornou 80% mais barata. No Brasil já é mais barato, em algumas regiões, gerar a própria energia com a instalação dos painéis solares no telhado do que comprar a energia da rede de distribuição. “Investir em energia solar fotovoltaica não é mais uma decisão puramente ambiental ou de consciência da sustentabilidade, mas acima de tudo, o principal motivo que faz as pessoas investirem nesta tecnologia é economia no bolso e competitividade para as empresas”, ressaltou Rodrigo Sauaia.

A economia na conta já foi sentida por Adriana Maria Silva, de 47 anos, presidente da Creche Comunitária Mundo Infantil, na comunidade Santa Marta, do Morro Dona Marta, em Botafogo, zona sul do Rio. “A gente pagava uma conta muito alta. Hoje a gente tem uma conta que pode pagar e com o dinheiro que sobra a gente pode investir na instituição, em alimentação, no material pedagógico, na manutenção do prédio”, disse.

Com a geração de energia por meio dos painéis instalados no telhado dos prédios da instituição, a creche já tem somado crédito da Light, a companhia de abastecimento de energia do local. “O que vem hoje é mínimo e tem mês que não vem conta para a gente pagar”, completou Adriana, referindo-se aos créditos obtidos com a geração da energia solar.

A creche foi o projeto piloto instalado na comunidade pela Insolar, um negócio social, que é um tipo de empresa autossustentável financeiramente sem distribuição de dividendos, voltada para solucionar um problema social e/ou ambiental. Mas a creche não foi a única a ter bons resultados com a redução dos custos. O dinheiro que deixou de ir para o pagamento das tarifas foi usado para a ampliação do prédio da associação de moradores, com a construção de salas para aulas de modalidades esportivas e de canto.

A discussão para o desenvolvimento do uso de energia solar no Morro Dona Marta começou em 2015. Segundo Henrique Drumond, um dos fundadores da Insolar, com a parceria de empresas privadas e até do Consulado da Alemanha no Rio, a comunidade já tem 33 espaços comunitários funcionando com essa fonte renovável por meio de 190 painéis. Além disso, os projetos permitiram a capacitação de 35 moradores da comunidade sobre o funcionamento da fonte de energia e manutenção dos equipamentos. Todas as estações do sistema de transporte do plano inclinado operam com painéis que tem acopladas baterias para evitar interrupção no tráfego caso haja corte de energia. “Fizeram a instalação na própria comunidade e depois todos, divididos em equipes, instalaram refletores solares de emergência. Quando falta luz em alguns pontos do Santa Marta, esse sistema liga automaticamente e ilumina o caminho dos moradores”, acrescentou Drumond.

A comunidade ganhou ainda o coletivo Santa Mídia, utilizado para divulgação de assuntos de interesse dos moradores. “É uma mídia comunitária com uma televisão que fica na estação 1 do plano inclinado e divulga os informes da comunidade, sobre mutirões, campanhas de vacinação, anúncios. É abastecida com energia solar e a gente fez uma intervenção com o projeto Morrinhos, que fez na estação, ao redor da Santa Mídia, que foi toda grafitada, uma instalação deles”, completou.

Habitação popular

A energia solar já está sendo utilizada em projetos de residências de interesse social. Numa parceria com a Absolar, o governo de Goiás lançou as primeiras 149 moradias do Programa Casa Solar, que prevê até o fim do ano chegar a 1,2 mil. Para o presidente da associação, a iniciativa é um caminho para que este tipo de fonte de energia possa se estender a todas as faixas de renda da população. “Um sistema como foi utilizado em Goiás pode reduzir em até 70% o custo com energia elétrica e esse dinheiro que alivia o orçamento da família para investir mais na qualidade de vida, da sua alimentação e da educação”, destacou, sugerindo que o governo federal insira este tipo de energia nos seus projetos de habitação.

Leilões

No sentido de garantir o processo de desenvolvimento e dar maiores perspectivas para essa fonte renovável, além de segurança nos futuros investimentos, o presidente da Absolar defendeu a volta dos leilões de compra de energia solar fotovoltaica. Segundo ele, foi cancelado um certame previsto para o fim do ano passado na área de geração centralizada de usinas de grande porte incluindo a energia eólica. Segundo ele, o cancelamento desse leilão foi uma frustração nas expectativas do setor.

“Gera uma insegurança de como serão os investimentos nos próximos anos e acaba dificultando a vinda de novos investimentos e de fabricantes para atuar no país. Para superar esse gargalo, a nossa expectativa é que o governo federal, por meio do Ministério de Minas e Energia, possa, ainda no ano de 2017, realizar um leilão de energia solar para que a gente tenha um sinal de continuidade de investimentos na fonte”, disse Rodrigo Sauaia.

O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Luiz Augusto Barroso, informou à Agência Brasil que, no momento, o órgão e o Ministério de Minas e Energia estão fazendo uma série de análises para definir a realização de leilões de energia solar. Ele lembrou, no entanto, que esses certames são baseados nas demandas a contratar fornecidas pelas distribuidoras. “Efetivamente é a disposição a contratar das distribuidoras que vai definir o espaço para as compras de nova geração no Brasil. Isso afeta todas as fontes, não só a solar”, destacou.

Cristina Indio do Brasil – Repórter da Agência Brasil

Fonte: http://www.industriahoje.com.br/